Uma dúzia de 19 coisas que quero saber sobre o Projeto de Lei 30/2011 que muda o atual Código Florestal.
Os atores Wagner Moura, Marcos Palmeira, Alice
Braga, a modelo internacional Gisele Bündchen e outras 21 personalidades (...)A
iniciativa partiu do cineasta Fernando Meirelles. Os 25 vídeos fazem parte da mobilização #florestafazadiferença, realizada pelo Comitê Brasil
em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. (leia mais...)
1. O que é o Código
Florestal?
É uma Lei Federal. Foi criada
em 1934 e atualizada em 1965.
Ela regula o uso da terra e
dos ambientes naturais.
O Código Florestal define que
as florestas são bens de interesse comum a toda a sociedade, não apenas de quem
detém a propriedade onde elas estão.
O Código Florestal foi
pioneiro em reconhecer a supremacia do interesse público sobre o direito
privado, o que foi depois reforçado na Constituição de 1988 ao definir a função
social e ambiental das propriedades rurais.
2. Função social e ambiental
da propriedade?
Toda propriedade deve ser
produtiva, empregar trabalhadores de forma justa e digna e preservar o meio ambiente.
O agricultor assume
responsabilidades, como preservar uma parte de sua terra coberta por florestas (20%)
e usar a terra de forma produtiva.
3. O Projeto de Lei 30/2011
piora o que era bom?
Sim.
Apesar de antigo, ou talvez
por isso mesmo, por ter uma visão sábia, séria e respeitosa da vida, o Código
Florestal existente já é um dos melhores do mundo e dos mais comprometidos com
a proteção dos recursos naturais no campo e nas cidades.
Nosso Código Florestal atual
pode melhorar, mas o Projeto de Lei o piora. Ele reduz a proteção aos recursos
naturais, tornando-os vulneráveis.
Dá anistia a quem desmatou
ilegalmente e cria um monte de brechas para quem quer continuar desmatando.
4. Como anda a tramitação no Congresso?
Rapidamente.
O Projeto de Lei já foi aprovado pela Câmara dos
Deputados e agora está em discussão no Senado.
Na primeira Comissão, surgiram 110 emendas, muitas
delas propondo corrigir alguns artigos mais irresponsáveis. Mas o Projeto de
Lei foi aprovado quase sem alterações.
Agora ele está sendo discutido em três outras
Comissões, mas dá para ver que o relator está resistindo muito a aceitar
emendas, mantendo no projeto a maioria dos pontos preocupantes.
Em seguida o projeto irá ao Plenário do Senado. Depois
disso, voltará para a Câmara dos Deputados.
Aí será tomada a decisão entre o texto que a Câmara já
havia aprovado e o que o Senado mudou no projeto. Por último chegará até a presidente
Dilma, para sanção ou veto.
Querem fazer tudo isso ainda
esse ano. Depois vem natal, ano novo, carnaval e todo mundo esquece.
5. Quem é quem nessa parada?
O Projeto de Lei tem
inspiração e condução da bancada de deputados e senadores eleitos para defender os interesses do agronegócio.
É a chamada bancada ruralista.
Às vezes esses interesses são
bons, quando o país ganha como um todo.
Outras vezes, como neste caso, os interesses não são bons para
o Brasil.
É quando só lucram as grandes
empresas de agrotóxicos, de máquinas e equipamentos agrícolas, de sementes de
transgênicos, os grandes empresários rurais, exportadores e investidores nas
bolsas de valores ao redor do mundo.
Do outro lado estão
organizações da sociedade civil, que defendem o desenvolvimento, o meio
ambiente e os direitos humanos. Estão também brasileiros conscientes,
preocupados com o nosso presente e com o futuro dos nossos filhos e netos.
Nosso interesse é que o
agronegócio se fortaleça, produza alimentos para o Brasil e o mundo, porém preservando
os recursos naturais.
Só assim o Brasil irá crescer
de fato: de forma responsável, construindo desenvolvimento para toda a
sociedade se beneficiar hoje e no futuro (Art225CF/1998).
6. E o Governo? Qual é a
posição dele?
Difícil.
A defesa do meio ambiente e não perdoar desmatamento ilegal foram
promessas da campanha eleitoral da presidente Dilma.
Mas o Governo, por não querer
contrariar os grandes interesses econômicos por trás do projeto, está sem ação,
deixando o jogo da articulação no
Congresso correr solto.
Nossa pressão pública agora é
decisiva para que o Projeto de Lei não seja aprovado como está.
A atuação da sociedade
brasileira contra o Projeto de Lei dará força e mais autoridade aos senadores
conscientes e à presidente Dilma, para que o CFB, ele seja, no mínimo, revisto
a sério.
Se não fizermos alguma coisa já, nosso país passará a maior vergonha
diante do mundo todo.
7. Por falar nisso, o que
ONGs internacionais têm a ver com isso?
Nada.
É um truque dos ruralistas,
para desviar a atenção dos pontos que de fato interessam e fazer terrorismo
emocional com a opinião pública.
O Código Florestal atual foi revisto
em 1965 por cientistas, agrônomos, economistas e juristas brasileiros
exatamente para promover o desenvolvimento do país sem comprometer nossas
riquezas naturais.
As mais de 150 organizações
que coordenam o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável
contra o Projeto de Lei são todas da sociedade civil brasileira: CNBB, OAB,
CUT, Via Campesina e as várias entidades ambientalistas nacionais.
Há, sim, a adesão de ONGs
internacionais.
O mundo todo está preocupado que
esse Projeto de Lei destruirá nossas florestas, afetando o Brasil e o planeta.
8. O Brasil é o único país
que regula áreas protegidas?
Não.
A maioria dos países tem leis
que protegem as áreas de risco e criam obrigações ambientais às propriedades
rurais e às cidades.
Paraguai, Chile, Panamá,
Nicarágua, Venezuela, Bolívia, Costa Rica, República Dominicana têm
leis ambientais que protegem
as florestas, muitas vezes mais rigorosas que as nossas.
A Comunidade Européia, os
Estados Unidos, o Canadá e a Austrália há anos vêm aprovando
legislações
para proteger o que sobrou da sua riqueza ambiental.
Eles pisaram na bola feio no
passado e agora estão tendo que replantar árvores e restaurar
em média 800 mil hectares por
ano para correr atrás do prejuízo.
Não
podemos, hoje, repetir esse erro e ter que depois pagar esse preço.
9. Por que as florestas são
tão importantes assim?
Porque elas são fonte de
vida.
As florestas mantêm
biodiversidade, regulam as chuvas, protegem nascentes e rios, seguram e
fertilizam a terra, reduzem erosão.
As florestas também têm alto
valor econômico. Seu uso de forma sustentável garante renda e melhora as
condições de vida de agricultores familiares, cooperativas e populações
tradicionais.
As florestas aumentam a
produtividade agrícola por atrair polinizadores para as lavouras e controlar
pragas.
As florestas diminuem a
contaminação dos rios e sua presença nas
margens pode reduzir o custo de
tratamento da água em até 150
vezes.
O turismo em áreas de preservação é a principal atividade
econômica de muitas cidades brasileiras.
Há um mercado imenso de
emissão de certificados verdes, como madeira e alimentos sustentáveis.
Uma árvore em pé vale mais e
rende mais do que uma árvore no chão.
10. Onde eu moro não tem
floresta. O que eu tenho a ver com isso?
Você tem tudo a ver com isso.
Parece que não tem floresta aí onde você vive, mas tem sim.
É uma pena que a sua floresta
seja pequena, frágil e sacrificada.
Mas toda floresta do Brasil é
sua, mesmo que ela esteja lá longe.
Uma árvore que cai lá,
estremece aqui.
O que queima lá, arde aqui.
O que esquenta lá, sufoca
aqui.
O que seca lá, morre aqui.
O que evapora lá, irriga
aqui.
O que chove demais lá, inunda
aqui.
O que acaba lá, falta aqui.
O que dói lá, dói em todo
lugar.
11. Como assim?
Simples assim.
As florestas têm tudo a ver
conosco agora, mas também têm a ver com os nossos filhos e netos depois.
Elas mudam a vida para melhor
ou para pior, no campo e nas cidades. Com menos florestas e matas para reter a
água no solo, haverá secas. Haverá deslizamento das encostas de morros nas
regiões serranas.
Nas cidades, haverá
enchentes.
E também estiagem, tempo
seco, falta de água.
No campo, menor produtividade
e pior qualidade agrícola.
Aquecimento e aumento de
temperatura ou frio intenso por longos períodos, estações fora de hora em todos
os lugares.
Quantas tragédias como essas
temos visto cada vez mais?
As florestas afetam a vida de
todos nós, no Brasil todo.
12. O que são essas tais de
Áreas de Preservação Permanente?
São áreas quase intocáveis no
campo e nas cidades.
São as chamadas APPs, para facilitar.
Exatamente porque elas
garantem a vida e têm que ser preservadas custe o que custar.
São elas que protegem o
entorno das nascentes, as margens dos rios, lagos, lagoas, mangues, as encostas
muito inclinadas, o topo dos morros. Quando tiramos uma planta do vaso, as
raízes seguram a terra entre elas. É assim que funcionam as APPs: seguram a
terra, estabilizam as encostas, não deixam o solo e
os agrotóxicos serem
arrastado para os rios em época de chuva.
A terra fica mais rica,
diminuem deslizamentos e as enchentes.
Há mais fartura de água, o
solo absorve as chuvas que alimentam os lençóis freáticos e renovam o ciclo da
água.
13. O que o Projeto de Lei muda sobre as APPs?
Para começar, muda a definição do que
são Áreas de Preservação Permanente.
Passa a considerar que os mangues e
as veredas, alguns tipos de encostas e de topos de morros não são mais APPs.
Pode desmatar à vontade.
Também diminui a largura das matas
ciliares (de 30 para 15 metros), aquelas matas que protegem as nascentes, rios,
lagos, lagoas, mangues.
O Projeto de Lei também deixa barato
o desmatamento de APPs e Reserva Legal que foi feito até 2008 e não exige
que os proprietários recuperem essas áreas devastadas.
Dá uma anistia geral aos criminosos
ambientais e não valoriza quem respeitou a lei.
Um péssimo exemplo de
responsabilidade e de civilidade, que vem aumentando o desmatamento desde já.
O Projeto de Lei também cria uma
lista interminável e flexível
de situações, que poderão justificar
novos desmatamentos nas APPs.
Essas exceções são tantas e tão
vagas, que o Projeto de Lei na prática acaba com grande parte das áreas que
antes eram protegidas pelo Código Florestal.
14. Qual a diferença entre as
APPS e as Reservas Legais?
Uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa. Elas não se confundem. Cada uma tem sua função ambiental
própria.
A função das Reservas Legais
é conservar a biodiversidade e proteger a fauna e a flora originais de lá.
As Reservas Legais também são
áreas dentro de propriedades rurais onde a vegetação nativa tem que ser
mantida, mas sem uma localização específica.
Cabe ao dono escolher onde
vai manter sua Reserva Legal, desde que ela
cubra pelo menos 20% do tamanho total da propriedade rural.
A porcentagem dessas Reservas
Legais que devem ser protegidas varia conforme a região em que está cada
propriedade rural: Amazônia Legal, áreas de florestas, de cerrado, etc.
Na Amazônia, as Reservas Legais têm que ocupar 80% da propriedade,
porque a Floresta Amazônica é nosso maior patrimônio ambiental.
Portanto, uma propriedade
rural deve ter áreas de Reserva Legal e também Áreas de Preservação Permanente.
Mas elas têm que ser
consideradas e preservadas separadamente.
15. O que o Projeto de Lei
muda sobre as Reservas Legais?
Ele cria várias formas de driblar a obrigação legal de se respeitar
e manter a Reserva Legal reservada.
A Reserva Legal que foi
desmatada poderá ser recuperada apenas pela metade, se o desmatador compensar
com vegetação e plantas não-nativas na outra metade.
O eucalipto é um exemplo: tem
alto valor econômico, mas seu valor
ambiental é baixo.
Com o pretexto de ajudar os
pequenos agricultores, o Projeto de Lei
reduz o tamanho da Reserva Legal a ser preservada.
Em alguns Estados, por
fracionamento das terras, 90% das propriedades
ficam isentas de restaurar suas Reservas Legais já devastadas.
Na verdade, os pequenos produtores
rurais precisam de um tratamento diferenciado, com normas específicas e acesso
a investimentos para modernização de suas lavouras familiares.
16. Se alguém desmata num
lugar, ele pode compensar em outro?
Pelo Código Florestal atual, não pode.
Se desmatar, tem que compensar lá mesmo ou bem perto da área
prejudicada.
Pelo Projeto de Lei, quem
destruiu florestas da sua Reserva Legal poderá replantar em outro lugar, mesmo
que seja longe de onde ele desmatou. Quer dizer: uma área é destruída
ambientalmente, morre tudo que é animal e vegetação, sua produtividade cai, a
qualidade de vida cai ... enquanto outra área, em outra região que nem precisa
tanto de restauro, funciona como compensação à distância.
O Projeto de Lei vai estimular o
desmatamento de terras de maior valor, porque será possível fazer compensação
em lugares de terra mais barata.
17. Mas a agropecuária não
precisa de mais terras?
Não.
Já existem terras para
aumentar a produção agropecuária sem que haja mais desmatamentos.
Temos mais de 60 milhões de
hectares dedicados à agricultura e ainda há terra abundante e de sobra no
Brasil.
200 milhões de hectares em
pastagens são subutilizadas, com média de produtividade de apenas uma cabeça de
gado por hectare, muito abaixo de outros países, como nossos vizinhos, Uruguai
e Argentina.
Dá para aumentar nossa
produtividade com métodos simples e de baixo custo, para liberar 50 milhões
de hectares para a produção
de alimentos e para a recuperação das florestas.
Isso é o dobro da área
ocupada hoje por toda a produção de soja no Brasil. 61 milhões de hectares de
terras estão degradados, prontos para serem recuperados para o cultivo.
Há ainda 23 milhões de hectares de terras abandonados na Amazônia.
A EMBRAPA tem tecnologia brasileira
para viabilizar o uso produtivo de todas essas terras.
Sem desmatar, sem destruir
nada. Basta querer.
18. O que os proprietários
rurais acham do Projeto de Lei?
Depende do tamanho e da visão
do proprietário rural, do produtor.
O agricultor familiar
respeita a natureza, sabe há séculos que é da natureza que vem seu sustento e o
sustento das suas gerações.
Ele não concorda com o
Projeto de Lei que piora o Código Florestal.
O grande proprietário rural
com visão de futuro e compreensão da importância do capital ambiental e do
capital humano como insumos da sua produção agropecuária, também não aprova o Projeto
de Lei.
Mas o grande proprietário não esclarecido apóia o Projeto de Lei.
Este é outro ponto ruim do
Projeto de Lei: enxerga todo proprietário rural igual.
Não faz diferença entre o
grande proprietário investidor e a família que trabalha na lavoura e vive da
terra.
19. Então tá: o que eu faço agora?
Agite suas redes sociais,
seus familiares, seus amigos, seus colegas, seus desconhecidos e até seus inimigos
- desde que eles não sejam inimigos do desenvolvimento sustentável.
Demonstre por que não podemos
deixar os senadores, os deputados, a presidente Dilma aprovarem esse Projeto de
Lei que piora o Código Florestal existente.
Entre no site vá à luta.
Floresta faz a diferença.
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